09/06/2011

[Moda] Verdadeiro elogio da Sombra, o estilista Yohji Yamamoto.

"Os que usam minha roupa querem afirmar um ponto de vista".
Yohji Yamamoto
A partir dos anos 50 surge a primeira geração dita de “jovens criadores” que, de 1965 a 1985, desabrocharam, confundiram e e harmonizaram-se as múltiplas tendências do prêt-à-porter dos costureiros e criadores de moda.
Centrífuga, barroca, extravagante por tradição, sua força encontra-se, desde o inicio dos anos 80, desestabilizada pelos “conceituais”. Através do trabalho de artistas que substituem a própria obra por sua ideia, a análise de seu conceito e de suas conseqüências.
E é precisamente a esse “ponto de vista” que Yohji Yamamoto alude.

Mesmo que não reivindique o status de artista propriamente dito, Yohji, por meio de sua visão da roupa mostra-se particularmente sensível às correntes de sua época.

Foi um dos raros a romper com uma concepção atrasada do vestuário.

Revolucionando todos os seus códigos de sedução. Revendo seus sinais exteriores de riqueza. Redefinindo sua relação com o corpo do homem ou da mulher. Para objetivar, de uma forma radicalmente diferente e sob a incompreensão quase geral, a relação que se estabelece entre o belo e o feio, o antigo e o futuro, a memória e a modernidade.

O negro, "sombra final e silhueta de tudo", continua a ser a melhor arma desse questionamento. Verdadeiro elogio da sombra, as coleções de Yamamoto envolvem a silhueta em mistério.
Nasceu em Tóquio, em 1943. Filho da derrota japonesa, é beneficiado pelo apoio único de uma mãe, viúva de guerra, que sonha com o filho advogado. Mas para sua consternação, ele quer trabalhar em seu ateliê. Yamamoto vai para a escola de alta-costura Bunka. Anos difíceis, humilhantes e morosos. Além de ser o único garoto, Yohji é também o mais velho. Se destaca a tal ponto que ganha uma viagem a Paris, a cidade que, em 1981, ganhou notoriedade.
Yohji e a mãe, Fumi Yamamoto

Homem de negócios e criador – mesmo afirmando que o dinheiro não o interessa – Yohji Yamamoto está à frente de oito sociedades. E agora sua mãe trabalha com ele.


“Se a moda é a roupa, ela não é indispensável. E se a moda é uma maneira de perceber o nosso cotidiano, então ela é muito mais importante. Dentre tudo que se chama arte – pintura, escultura, etc. -, poucas podem, como a moda ou a música, influenciar tão diretamente as pessoas. A moda é uma comunicação única, essencial, relativa a sensações vividas por uma geração que usa a roupa que quiser”, declara Yohji, o mais sábio dos criadores de moda.

“Fazer uma roupa significa pensar nas pessoas. Tenho sempre vontade de encontrar com as pessoas e falar com elas. Isso me interessa mais do que tudo. Em seguida, posso começar a trabalhar. Começo pelo tecido, pelo material. Depois passo à forma, me transporto em pensamento para a forma que ela deve assumir”.

Em 1989, o diretor alemão Wim Wenders lhe consagra um longa-metragem.

Identidade de Nós Mesmos.

O cineasta Wim Wenders e Yohji

Ao longo dessa investigação cinematográfica, Wim Wenders percebe um paradoxo no trabalho de Yohji: “o que ele cria é necessariamente efêmero, vítima do consumo imediato e voraz que é a regra do seu jogo”. Ao mesmo tempo, Yohji se inspirava em referências históricas de outra época, fundamenta suas criações em fotografias antigas, como a do alemão August Sander.

Fotos de August Sander

A simetria - símbolo da perfeição – não é muito humana. É precisamente no humano que o mestre das tesouras e dos tecidos busca sua referências. Na roupa de trabalho usada, por exemplo, por centenas de modelos anônimos – das fotos de August Sander.

“O objeto perfeitamente simétrico, mesmo quando é um ser humano, não é bonito, para mim. Tudo deveria ser assimétrico”.

Quando falou sobre estilo, Yohji deu uma aula:

“O estilo pode se tornar uma prisão, uma sala de espelhos onde você só consegue se espelhar e se imitar”.

Yohji conhecia bem esse problema. Claro, ele caíra nessa armadilha e escapou dela, quando aprendeu a aceitar seu estilo.

“De repente a prisão de abrira. Isso pra mim é um autor: alguém que, para começar, tem algo a dizer, que sabe se expressar com sua própria voz e que finalmente encontra em si a força e a insolência necessária para se tornar guardião de sua prisão, e não continuar prisioneiro”.

O que há de Japão nisso tudo?

Yohji Yamamoto cidadão do mundo, concede a história da moda e particularmente a toda uma ideologia da costura, o que lhes deve.

“O fato é que nasci no Japão mas jamais me utilizei desse rótulo”.

Yohji Yamamoto, no seu trabalho de autêntico costureiro do cotidiano, é um dos que revolucionaram de maneira mais durável a aparência de homens e mulheres, exprimindo suas incertezas, suas angústias, suas contradições e paixões da época.

“Meu sonho é desenhar o tempo. Quando eu era jovem ficava pensando...se eu pudesse desenhar o tempo... seria muito legal”.


Fontes:

- Coleção Universo da Moda: Yohji Yamamoto, François Badout;

- Filme: Identidade de Nós Mesmos, de Wim Wenders;

Site Oficial: http://www.yohjiyamamoto.co.jp/


Mariá


3 comentários:

Geovana Arruda disse...

Lembro de ter visto um filme com ele durante o curso... Eu gosto!!
Ah!!Amei o post com os gatos do "kings of Leon" DIGNO!!

Thainá disse...

Eu sou muito fã dele
o filme do Wim Wenders é muito bom

Jana disse...

eu vi um bom pedaço do filme do win, bem pensante... aliás, como tudo que o wim faz
mas agora, falando do yohji, maravilhoso também, sofisticação inteligente

mas mudando de assunto... quando vamos ter o trabalho da Mariá exposto por aqui? acho que deveria expor pra gente :)

beijo grand