30/01/2011
[Moda] São Paulo Fashion Week Outono/Inverno 2011 - Parte 1.
18/01/2011
[Leitura] Vida e loucuras de um velho safado.
Charles Bukowski levantou-se da cadeira e pegou uma cerveja na geladeira, atrás dele, no palco. A platéia aplaudiu enquanto ele bebia, emborcando a garrafa até tomar a última gota dourada.
"Isto não é uma muleta", disse ele, falando lentamente, com uma cadência na voz, como W. C. Fields. "É uma necesssssidade." A platéia riu e aplaudiu. Uma jovem na frente gritou que ele era um velho legal. De fato, aos cinqüenta e dois anos, Bukowski tinha idade suficiente para ser pai da maior parte dos garotos que ali estavam para ouvir sua leitura e, por isso, sua atitude tornava-se muito mais engraçada. Bukowski tinha uma aparência estranha e um modo peculiar de falar. Era um homem alto, de um metro e oitenta, encorpado, com uma barriga de cerveja, mas sua cabeça parecia grande demais para o corpo, e o rosto era assustador como uma máscara de Frankenstein: queixo comprido, lábios finos, olhos tristes, apertados e encovados. Um grande nariz de beberrão, vermelho e roxo, com veias rompidas, e uma barba grisalha e desigual sobre a pele oleosa, marcada pela acne: pele tão ruim que parecia trazer as marcas de uma queimadura.
Voara para São Francisco, em setembro de 1972, levado pelos editores da City Lights Books, em razão do sucesso de uma coletânea de seus contos, Erections, Ejaculations, Exhibitions and General Tales of Ordinary Madness* [Nota de rodapé: * Esse livro foi lançado no Brasil em dois volumes:
Ereções, Ejaculações e Exibicionismos (Porto Alegre: L&PM, 1984. 2ed.) e Crônica de um Amor Louco (São Paulo: Círculo do Livro, 1989). (N. de E.)]. O livro era dedicado a sua jovem namorada, Linda King:
who brought it to me
and who will take it
away
quem o trouxe a mim
e quem vai levá-lo
embora
Oitocentas pessoas pagaram para entrar em um ginásio em Telegraph Hill, ansiosas por ver o autor de Life in a Texas Whorehouse e outras histórias chocantes, aparentemente autobiográficas. A idéia de aparecer diante delas aterrorizava Bukowski. Embora sua aparência causasse um certo impacto, era um tímido inveterado e odiava a si mesmo por ter arrastado seu traseiro até a cidade dos escritores beatnik, um grupo do qual não gostava e no qual não se inseria.
Bebera durante todo o dia para criar coragem. No vôo de Los Angeles pela manhã, no restaurante italiano em que ele e Linda almoçaram e atrás da cortina enquanto esperava a deixa para entrar em cena. Seu rosto estava cinza de medo. Vomitou duas vezes.
"Sabe, é mais fácil trabalhar em uma fábrica", disse ao amigo Taylor Hackford, que filmava um documentário. "Não tem essa pressão." A multidão o conhecia por seus contos, mas Bukowski leu poesia. Poemas sobre bebida, jogo, sexo e até mesmo idas ao banheiro ele sabia que só o título "piss and shit" já os faria rir.
"Vejam, alguns desses poemas são sérios, e tenho que me desculpar porque sei que algumas platéias não gostam de poemas sérios. Mas tenho que ler alguns de vez em quando para mostrar que não sou uma máquina de beber cerveja." Escolheu um poema sobre seu pai, a quem odiara com toda a força. Chamava-se "the rat":
with one punch, at the age of 16 and ½,
I knocked out my father,
a cruel shiny bastard with bad breath,
and I didn¹t go home for some time, only now and then to try to get a dollar from dear momma.
it was 1937 in Los Angeles and it was a hell of a
Vienna.
...
me? I¹m 30 years older,
the town is 4 or 5 times as big
but just as rotten
and the girls still spit on my
shadow, another war is building for another
reason, and I can hardly get a job now
for the same reason, I couldn¹t then:
I don¹t know anything I can¹t do
anything.
com um murro, aos 16 anos e ½,
derrubei meu pai,
um filho da puta cruel com mau hálito,
e não voltei para casa por um tempo, só vez por outra para batalhar um dólar com a querida mamãe.
era 1937 e Los Angeles era uma grande
Viena.
...
eu? Tenho 30 anos,
a cidade está quatro ou cinco vezes maior
mas tão acabada quanto
e as garotas ainda cospem quando
passo, outra guerra se cria por outra
razão, e não consigo emprego agora
pela mesma razão de outrora:
não sei fazer nada, não consigo fazer
nada.
Parecia que ia chorar quando terminou os últimos e tristes versos, mas mudou de repente e começou a representar o rebelde novamente. "Eu conheço você?", perguntou a uma fã, que fez um pedido. "Não seja insolente, gracinha...", ameaçou, desatando a rir. "Mais uma cerveja e vou pegar todos vocês." Jogou a cabeça para trás, deixando à mostra os dentes estragados, e gargalhou. "Ha, ha, ha. Cuidado!"
Outro fã tentou subir no palco.
"Que diabos você quer, cara? Sai do meu pé!", disse Bukowski, como se falasse com um cachorro.
"Quem é você, algum babaca?" O público gritou e gargalhou. Alguém perguntou quantas cervejas ele conseguia beber. Outros não estavam tão impressionados e exigiam que Bukowski parasse de perder tempo. Eles haviam pago para ouvir sua poesia, não para ver um bêbado. "Vocês querem poemas?", provocou os alunos, antipatizando com suas roupas caras e rostos despreocupados. "Implorem."
"Foda-se, cara!"
"Mais algum comentário?"
Quanto mais bêbado ficava, mais hostil se tornava, e mais hostilidade recebia da platéia. "No final, eles atiravam garrafas", recorda o poeta beat Lawrence Ferlinghetti, dono da City Lights Books, que abriu caminho, à força, para tirar Bukowski de lá, pensando em sua própria segurança.
Nesse site você pode conferir mais sobre a vida e a obra literária e artística de Bukowski (embora fosse essencialmente um escritor, foi capaz de produzir trabalhos como pintor) - http://bukowski.net/
Mariá
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Folha de S.Paulo - Análise: Look da presidente põe em xeque projeto de prêt-à-porter brasileiro de prestígio - 09/01/2011
Look da presidente põe em xeque projeto de prêt-à-porter brasileiro de prestígioALCINO LEITE NETO
EDITOR DA PUBLIFOLHA
Ter uma mulher na Presidência da República é uma espécie de revolução para um país cujo passado patriarcal é dos mais pesados.
Dessa perspectiva, parece fútil tratar da relação de Dilma Roussef com a moda. No entanto, eis um pequeno tema que deverá estar presente nos quatro anos de governo.
Antes que me acusem de sexista, gostaria de deixar claro que não estou preocupado com o estilo da presidente. O que me interessa é a decisão que tomou de vestir na posse uma roupa feita por uma costureira particular pouco conhecida, e não um modelo criado por algum dos principais criadores ou grifes brasileiros.
A escolha de Dilma representa um baque para as marcas nacionais de moda. Há décadas, estilistas e empresários vêm se empenhando em criar um prêt-à-porter brasileiro de prestígio, nos moldes do que ocorreu na França, na Itália e nos EUA.
Naqueles países, a indústria de moda é bastante forte, uma empregadora de peso e uma poderosa fonte de riqueza. Não é à toa que Michelle Obama elege cautelosamente a grife americana que vai vesti-la em eventos expressivos. O mesmo faz Carla Bruni, ao selecionar seus trajes entre as famosas "maisons" francesas.
Nas escolhas dessas primeiras-damas, está em jogo não apenas a elegância, mas também o compromisso com um extrato da economia de seus países.
É certo que Dilma optou por uma roupa brasileira, feita com toda dignidade pela gaúcha Luisa Stadtlander. Agindo assim, entretanto, acabou por colocar em xeque a relevância das grifes nacionais de prêt-à-porter e de luxo, bem como o projeto que elas mantêm de modernizar o design, a produção e o consumo no Brasil.
A decisão da presidente demonstra outras três coisas: que os celebrados estilistas nacionais não estão aptos a agradar mulheres "reais" como ela; que a política de afirmação do prestígio das grifes está muito longe de se efetivar no país; e que a indústria de moda brasileira, enfim, parece não ser um assunto significativo para a Presidência da República.
08/01/2011
[Leitura] Por dentro de Woody Allen, o humor irônico em tiras.
O cineasta, roteirista, escritor e ator norte americano, Woody Allen, é conhecido por filmes que se tornaram clássicos do cinema como Noivo Neurótico, Noiva Nervosa; Manhattan; A Rosa Púrpura do Cairo; Scoop e mais recentemente Vicky Cristina Barcelona e Tudo Pode dar Certo, entre tantos outros títulos.
Ao conseguir o sucesso com seu personagem depressivo, inseguro e neurótico, Woody Allen reinventou o humor norte americano. Nasceu assim, das mãos do amigo Stu Hample, Inside Woody Allen (Por dentro de Woody Allen), uma série de tiras que representavam o clássico humor do cineasta. Mesmo com o apoio de Allen, Hample trabalhou praticamente sozinho. Ao mesmo tempo em que criava e desenhava, não contava com uma equipe para a arte-final. As tiras foram publicadas durante seis anos.
Dread & Superficiality é o livro que reúne o melhor da arte de Stu Hample com Inside Woody Allen, juntamente com fotos e trabalhos de desenvolvimento. Em 2010, a editora Desiderata anunciou o lançamento no Brasil.
Mesmo depois de tanto tempo, o humor de Woody Allen continua atual e Inside Woody Allen é perfeito para quem é fã do cineasta e suas crises existencialistas.