01/05/2010

[Moda/Leitura] Fashion

Eis-me, o remendo deste tecido mui fino de lantejoulas que é C&O.
Este post foi sugerido pelo acaso de uma leitura que fazia do livro ESPELHOS – UMA HISTÓRIA QUASE UNIVERSAL do escritor uruguaio Eduardo Galeano (Editora L&PM, 2008).
Eu quero encomodar sim algumas pessoas com esse texto. Quero encomodar todas aqueles que, como eu, em suas vidas medíocres, acima de tudo, sabem da sua própria precariedade.
A esses, e somente a esses, que são capazes de auto-crítica e que ainda acreditam que nada vale mais que a gente que há no mundo.
Fashion
A venda de escravos despejou uma chuva de produtos importados.
Embora a Africa produzisse ferros e aços de boa qualidade, as espadas européias eram cobiçados objetos de ostentação para os monarcas e cortesãos dos muitos reinos e reininhos que vendiam negros para as empresas brancas.
A mesma coisa acontecia com os tecidos africanos, feitos de fibras diversas, do algodão à cortiça das árvores. No começo do século XVI, o navegante português Duarte Pacheco havia comprovado que os vestidos do Congo, feitos de fibra de palmeiras, eram suaves como o veludo e tão bonitos que não os há melhores na Itália. Mas as roupas importadas, que custavam o dobro, davam prestígio. O preço ditava o valor. Custa tanto, tanto vale. Baratos e abundantes eram os escravos, e por isso mesmo não valiam nada. Quando mais cara e mais rara era alguma coisa, mais valor tinha, e quando menos se necessitava, melhor: a fascinação por tudo o que vinha de fora dava preferência às novidades inúteis, modas mutantes, hoje isto, amanhã aquilo, depois de amanhã quem sabe.
Esses brilhos fugazes, símbolos de poder, diferenciavam os mandões dos mandados.
Tal como agora.


Por: Jana

5 comentários:

mariah disse...

Eduardo Galeano é mestre. Seus textos são sempre incríveis.

Thainá disse...

Eduardo Galeano é muito amor <3

Trashy Fame disse...

super lindo texto neh ?

Anônimo disse...

Fato.

Simplesmente

celestesemsentido disse...

Mas os "infelizes" que leem, não entendem...